quarta-feira, 5 de abril de 2017

Profetismo bíblico no Antigo Testamento


No meio evangélico há um mau entendimento na definição do "é de fato um profeta?" e essa expressão já está até certo ponto desgastada por conta do seu uso indevido, pois a maior parte dos evangélicos entendem como profeta alguém que traz revelações ou que vai falar sobre eventos futuros como uma espécie de adivinho moderno, mas o que a bíblia nos diz ou melhor o que ela define como profeta?
É bom lembrar que houve vários profetas mencionados na bíblia, uns deixaram escritos outros tiveram apenas seus nomes e feitos registrados nas escrituras e que sua área de atuação foi bem diversa, uns atuando como conselheiros de reis, portadores da revelação de Deus (entende-se por revelação de Deus o falar inspirado por Ele) e até mesmo críticos sociais.

Geralmente o campo de atuação dos profetas da bíblia eram três; contexto social, político e religioso eles estavam presentes em todas camadas sociais e vários deles atuaram no mesmo período histórico. Esses confrontavam as elites da sociedade, reis e mesmo a população em geral chamando todos ao arrependimento. Uma coisa que fica clara nas escrituras é que a principal forma de proclamação dos profetas do antigo testamento era a denúncia.

Denunciavam o rei que fazia alianças militares com nações pagãs em vez de confiar em Yahweh (o caso do rei Josias), denunciavam os ricos que oprimiam os necessitados (Profeta Amós) e denunciavam a idolatria generalizada da nação (Oseias e Jeremias) e é interessante ressaltar que esses mesmos profetas não limitavam sua mensagem a um teor somente religioso, mas compreendiam melhor do que nós hoje que todos as esferas de nossa vida cotidiana devem glorificar a Deus, que devemos ser fiéis em tudo; caso contrário não somos fiéis em nada.

Não falavam sob efeito de êxtase religioso (estado de semiconsciência), mas tinham plena consciência do estavam fazendo. O profeta antes de mais nada é alguém que fala ao presente em nome de Deus e em tom de denúncia, e que eventualmente poderia trazer uma predição do futuro revelado por Deus.

Definição dos termos para profeta encontrados na bíblia:

Em 1Sm 9.6-11 leem-se três termos: ish-elohim homem de Deus (v.6-10), ro-eh vidente e nabî profeta (v.11). Em 1Cr 29.29 usam-se três títulos: ro-eh, nabi e hozeh. Analisaremos cada um desses termos.
Ro’eh e Hozeh (Vidente)
Os termos ro’eh e hozeh são intercambiáveis; ambos têm o sentido de vidente. O termo hebraico hozeh significa aquele que vê, e relaciona-se com hazon, visão (Is 1.1). 1Sm 9.9 parece indicar que nabi e hozeh significavam algo diferente no passado, mas depois se tornaram sinônimos. 1Cr 29.29 utiliza as três palavras analisadas anteriormente, nabi, roeh e hozeh.

Para muitos estudiosos a vidência seria um dos tipos da profecia, tendo o vidente como figura preponderante, de acordo com exemplos arábicos. O vidente corresponderia, pois, ao termo árabe kahin. A esse fenômeno assemelhavam-se os nômades patriarcas e Balaão (Nm 22-24).

O termo ro’eh vidente designa alguém que vê. Assim, o profeta podia penetrar o futuro e revelá-lo (Dt 18.21-22). São carismáticos, e podem também ser chamados de homem de Deus (Moisés e Samuel Dt 33.1; 1 Sm 9.1-10,16). 9 Um dos usos dessa palavra está em Amós 7.12 onde Amazias chama Amós de ro’eh: Vai-te, ó vidente (ro’eh), foge para a terra de Judá, e ali come o teu pão, e ali profetiza.

Nabi (Profeta)

Nabi pode ser aplicado aos vários grupos e indivíduos. O termo provavelmente relacionava-se com o acádico nabû chamar, anunciar, nomear, mas não se sabe se tem sentido ativo ou passivo. Se considerarmos que o hebraico exprime a ação de profetizar no passivo, teremos que sugerir que o nabi sofria a ação que Deus lhe impunha, e consequentemente, a ação profética não dependia da iniciativa humana, mas somente da ação divina.

Assim, etimologicamente, nabi significaria chamado, convocado para uma missão concreta.

Então podemos entender que nabi é um ro’eh. É o caso de Amós, chamado de ro’eh (Am7.12). Ele é alguém que vê (lembre-se: esse é o significado de ro’eh), uma referência às suas visões (Am 7 9). Mas ele é um nabi, alguém que profetiza/proclama a Palavra de Deus (Am 7.15). Obadias teve uma visão (hazon) sobre Edom (Ob 1.1). Miquéias também é aquele que vê (Mq 1.1), e da mesma forma Naum (Na 1.1), Habacuque (1.1) e Isaías (Is 1.1).
Os profetas, portanto, foram anunciadores da Palavra de Deus, porque viram o desenrolar da história de uma maneira profunda. Eles souberam ler a história porque foram chamados pelo Deus da história. Profeta é o homem que vê para onde a história vai.

Ish ha-Elohim (Homem de Deus)

Um outro título profético é ish ha-Elohim homem de Deus. Este título refere-se a alguém que opera milagres mediante uma íntima relação com Javé (1Rs 17, 18; 13.1,11; 20.28; 2Rs 1.9-18; 4.7; Jz 13.6.8; 2Cr 25.7,9).15 Mas é bom notarmos que não é um título auto apregoado a si mesmo de forma triunfal. Era um reconhecimento que os outros faziam do profeta. O termo aparece 76 vezes no Antigo Testamento e quase na metade das vezes é aplicado a Eliseu. O ish Elohim é mostrado como uma pessoa de confiança de Deus e as pessoas veem isso na sua vida.

Beney ha-nebi’im (Filhos dos profetas)

Com Eliseu parece surgir na profecia a relação mestre-discípulo. Os Beney ha-nebi’im, filhos dos profetas, estão assentados diante de Eliseu (2Rs 4.38; 6.1; cf.2.15). Esses discípulos de profetas parecem viver temporariamente juntos: reúnem se num lugar modestamente mobiliado, tomam refeições em conjunto e talvez de distingam através de um sinal na cabeça (1Rs 20.41; 2Rs 2.23).

Distinguindo o verdadeiro do falso profeta

O verdadeiro profeta anunciava a ruína do poder estatal e religioso, devido ao detrimento moral e espiritual desses (Jr 7; 27-28; cf. 1Rs 22). Os verdadeiros profetas não estavam comprometidos com a política estatal, mas com a Palavra de Deus. Por isso, considerando o fato de que o Reino do sul (Judá) e o Reino do Norte (Israel) abandonaram os princípios do verdadeiro Deus, os profetas anunciaram sem reservas a destruição desses estados por inimigos, principalmente pela Assíria e Babilônia. Basta lermos os textos proféticos e perceberemos isso.
O verdadeiro profeta era a boca de Deus, e falava somente aquilo que  Deus ordenava (Dt. 18.18-20; cf. 1Rs 17.24; 22.28).
O verdadeiro profeta era avaliado por sua lealdade à Lei (Dt 13.2-6).

Fonte: Revista Theos . Revista de Reflexão Teológica da Faculdade Teológica Batista de Campina. Campinas: 5ª Edição, V.4 - Nº1 - Junho de 2008. ISSN: 1908-0215.
Dicionário VINE, O significado exegético e expositivo das palavras do antigo e novo testamento. W.E. VINE, Merril F. Unger 7° edição

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